Eis, finalmente, o tão desejado final do renovado Um Auto de Gil Vicente, a partir da escrita de Almeida Garrett, submetida às variações propostas pelos alunos de Literatura Portuguesa do 11.º VC, cujos nomes a seguir se recordam: Beatriz Neves; Bebiana Leal; Hugo Ribeiro; Juliana Bento; Juliana Araújo; Maria Cunha; Susana Silva; Tânia Pereira; e Vera Coelho. Continuação de boas leituras.
Cena XX (Bernardim Ribeiro e D. Beatriz)
(Chegou o grande dia do casamento real. A noiva entra, a cerimónia inicia-se e o noivo mantém-se de costas para o público, para que não o vejam. A infanta chega ao altar e, com grande espanto, depara com o noivo; os dois casam-se. Saem os convidados; D. Beatriz e Bernardim ficam sozinhos na igreja.)
Beatriz – Bernardim! Que loucura! Como estais aqui? Tínheis morrido! Meu Deus, mas que sonho é este?
Bernardim – Minha amada Beatriz, precisamos de fugir! Não tarda, o povo descobrirá que eu não sou o Duque, prender-me-ão ou até matar-me-ão! Temos de fugir agora!
Beatriz – Para onde, Bernardim? E o reino? Para onde vamos, e como havemos de ir?
Bernardim – O reino fica com Chatel, um secretário empenhado, sempre leal ao seu Duque, fez muito por nós. Ele já está a par da situação, o reino fica bem entregue. Vamos! Chatel tem um galeão à nossa espera. Vamos fugir!
(Os dois fogem da igreja sem que ninguém dê pela sua falta.)
Cena XXI (Parvo, Pompeu, Parva e Pompeia)
(Na prisão do reino, continuam o Parvo e Pompeu, a cumprirem as suas penas. No entanto, tinham criado algumas ligações amorosas com umas moças do reino.)
Pompeia – Ai, Parva… Aquele Pompeu… É cá um homem… Ai que cousa tão formosa!
Parva – Eu cá prefiro o Parvo… Aquele macho dá-me a volta à cabeça… Ai Jesus!
Pompeia – Não digas essas cousas desavergonhadas, mulher… Olha que parece mal…
Parva – Ai, se eu pudesse fugir daqui com aquele pedaço de carne de qualidade rara... Era a fêmea mais feliz deste mundo...
(Olha para o guarda e vê que este está a dormir.)
Parva – Pompeia… E se eu…
Pompeia – Se tu roubasses a chave e fugíssemos os quatro?
Parva – Ai, comadre! Vamos embora desta vida!
(Atirando as vassouras ao chão, soltam os amados e fogem.)
Parvo – No fim desta cousa toda, os parvos é que têm sorte!
Pompeu – Os parvos é que têm sorte!
(E assim se encerra Um Auto de Gil Vicente.)