Conforme explicámos na última entrada, damos hoje sequência à versão renovada de Um Auto de Gil Vicente, da responsabilidade dos alunos de Literatura Portuguesa do 11.º VC. Eis as cenas V e VI do acto II.
«Aqui têm o que é o Auto de Gil Vicente; e nunca pretendeu ser mais».
ATO 2
Cena V (Paula, Pêro, Gil Vicente e Bernardim Ribeiro)
Bernardim – Ó da casa!
Gil Vicente – Quem vem lá?
Bernardim – Bernardim Ribeiro, mestre Gil!
Gil Vicente – Que te traz cá, menino das «Saudades»?
Bernardim – Ouvi dizer que ficastes sem a moura, posso eu tomar essa posição?
Gil Vicente – Que interesse tendes vós em fazê-lo?
Bernardim – Digo-vos, Mestre, que tenho muito apreço por vossos autos, e seria do meu mais sincero agrado poder ajudar-vos.
(Pêro Sáfio e Paula Vicente ensaiam um aparte, enquanto Paula tenta aperceber-se da situação.)
Gil Vicente – Meu Deus! Já tarda, já tarda! Serás tu capaz de representar tal personagem?
Bernardim – Garanto que não vos hei-de desiludir!
(Paula apercebe-se da situação e fica pensativa.)
Cena VI (Parvo e Pompeu Pompeia)
(Em casa do Parvo)
Parvo (suspirando de amores) – Que cousa formosa aquela Beatriz!
Pompeu (tentando repetir as palavras do seu chefe) – Que coxa jeitosa tem aquela Beatriz!
Parvo – Pompeia! Pompeu! Pompeia-Pompeu! Pomp… Olha, tu! Seu desgraçado dos infernos!
Pompeu – Dos infernos desgraçado tu és!
(Troca de açoites.)
Parvo – Esta noite temos afazeres!
Pompeu (exaltado e curioso) – Afazeres… Que «fazeres»?
Parvo – Irmos ir a la corte de El-Rei D. Manuel p’ra mirar el auto do Mestre Gil! Será a minha última chance de conquistar o coração da minha preciosa Beatriz?
Pompeu – Já tentastes muitas vezes e nada conseguistes!
Parvo – Estais vós a duvidar de minha habilidades de cavaleiro andante?
Pompeu – Até o jumento da Jaquina aqui do lado é mais cavaleiro que tu!
Parvo - Pompeia! Pompeu! Pompeia-Pompeu! Pomp… Olha, tu! A ver vamos!
[Em cima: Fac-símile da edição de 1559 de História de Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro.]