Publicaremos, nas próximas entradas, os textos de alunos que participaram no Concurso Nacional de Leitura, com apresentações relativas ao romance Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco. Começamos hoje com o texto da Sara Neto, do 11.º VA.
Estar apaixonado mata. E não estar, também. E, deste modo, nada mais está representado senão a contrariedade do Amor.
O Amor está escondido na oposição de todos os nossos sentimentos, é um tudo ou nada, é o auge da felicidade e a mais profunda tristeza, é a tranquilidade e, simultaneamente, a confusão, é aquilo que nos mantém vivos, mas também o que nos leva à morte.
E, sem dúvida alguma, Amor de Perdição transborda deste sentimento tão sublime.
Em 1861, Camilo Castelo Branco, também ele alvo de um amor impossível, inspirando-se na sua própria vida, escreveu uma das mais eternas histórias de amor da literatura portuguesa.
Simão Botelho e Teresa de Albuquerque são os protagonistas inocentes do drama de amar, amar contra a vontade dos pais, visto que as suas famílias eram inimigas e, assim sendo, metaforicamente falando, construíram uma teia que tragicamente os aprisionou. Contudo, ainda que conscientes da impossibilidade da sua relação, as duas personagens jamais desistem do sentimento que os une.
Teresa, realçando uma forte personalidade, enfrenta as ameaças de seu pai de forma inflexível, preferindo o enclausuramento num convento e até a perda da vida, a ceder a um casamento forçado com Baltasar, seu primo.
Simão, por sua vez, revela uma evolução psicológica, ou seja, há uma mudança do seu comportamento ao longo da sua vida. No início da sua adolescência, possui um caráter rebelde, corajoso, inconformista, um «génio sanguinário»; mas, após a visão de Teresa, transforma-se num jovem mais calmo e assertivo. À semelhança da amada, os seus valores não se enquadram na sociedade da época, uma sociedade podre e anti-humana. Perdidamente apaixonado pela dama, comete um ato de loucura, isto é, o assassínio de Baltasar. Porém, evidenciando a sua honra e a sua consciência, Simão acata as consequências do seu ato e nega fugir, sendo, assim, condenado à tragédia, ou seja, à prisão e à posterior morte. Deste modo, tal como Camilo refere, Simão «amou, perdeu-se e morreu amando».
Ao longo da história, existe, ainda, Mariana, uma das mais importantes personagens, pois nutre um amor genuíno por Simão
A simplicidade e o altruísmo da jovem Mariana são admiráveis perante os olhos de Simão, chegando mesmo a equacionar um possível relacionamento. No entanto, várias eram as contrariedades a esta hipótese: o seu coração estava, inevitavelmente, destinado a Teresa e, ainda, as regras morais da época, as quais jamais permitiriam a concretização deste amor, devido à diferença de classes sociais.
Dotada de uma forte nobreza de sentimentos, Mariana limita-se a amar silenciosamente o jovem. Possui uma enorme generosidade delicada, revelada quando contribui para a comunicação entre Teresa e Simão, através de cartas. A força do seu amor era tal que, acompanhando Simão no navio que se dirigia para o degredo, na Índia (consequência do seu ato), após a morte do mesmo, a bela rapariga rendeu-se igualmente à morte, atirando-se ao mar, para junto do corpo de Simão.
Deste modo, o «fogo» eterno que, nas palavras de Luís de Camões, «arde sem se ver», foi o agente causador da perda de três vidas, cujo pecado foi amar. Amar até à morte, amar até à vida, vida que os reuniria no além, imortalizando-os como Romeu e Julieta, Pedro e Inês.
Sara Neto
[Em cima: Fotograma do filme Amor de Perdição (1979), de Manoel de Oliveira.]