Bem-vindos. Neste blogue, têm lugar textos da autoria de membros da comunidade educativa da Escola Secundária de Vilela e apontamentos diversos sobre livros e literatura.

26
Out 16

 

A partir da próxima semana, iremos publicar uma série de textos produzidos por alunos do 12.º ano, que reflectiram sobre a verdade e a sua eventual importância (ou não) no nosso mundo. Cada pequeno ensaio procurará sustentar a sua tese em dois argumentos, devidamente exemplificados, e vários serão os textos que apresentarão pontos de vista invulgares e fascinantes. Esperemos que as leituras agora propostas venham a parecer-vos tão fascinantes como a nós.

publicado por escoladeescritores às 12:05

19
Out 16

 

O mais recente galardoado com o prémio Camões foi, como sabemos desde há meses, o escritor brasileiro Raduan Nassar, cuja obra opera um trabalho deslumbrante sobre a nossa língua. Os seus livros estavam esgotados na edição portuguesa, mas regressaram agora às livrarias, por mão da versão nacional da Companhia das Letras. Assim, é já possível que os leitores lusos se deslumbrem de novo com as páginas da novela Um Copo de Cólera (1978) e do romance Lavoura Arcaica (1975). É precisamente deste último que aqui publicamos o primeiro capítulo, como um incentivo a que prossigam a leitura.

 

1

 

Os olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul ou violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, quarto catedral, onde, nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma da mão, a rosa branca do desespero, pois entre os objetos que o quarto consagra estão primeiro os objetos do corpo; eu estava deitado no assoalho do meu quarto, numa velha pensão interiorana, quando meu irmão chegou pra me levar de volta; minha mão, pouco antes dinâmica e em dura disciplina, percorria vagarosa a pele molhada do meu corpo, as pontas dos meus dedos tocavam cheias de veneno a penugem incipiente do meu peito ainda quente; minha cabeça rolava entorpecida enquanto meus cabelos se deslocavam em grossas ondas sobre a curva úmida da fronte; deitei uma das faces contra o chão, mas meus olhos pouco apreenderam, sequer perderam a imobilidade ante o vôo fugaz dos cílios; o ruído das batidas na porta vinha macio, aconchegava-se despojado de sentido, o floco de paina insinuava-se entre as curvas sinuosas da orelha onde por instantes adormecia; e o ruído se repetindo, sempre macio e manso, não me perturbava a doce embriaguez, nem minha sonolência, nem o disperso e esparso torvelinho sem acolhimento; meus olhos depois viram a maçaneta que girava, mas ela em movimento se esquecia na retina como um objeto sem vida, um som sem vibração, ou um sopro escuro no porão da memória; foram pancadas num momento que puseram em sobressalto e desespero as coisas letárgicas do meu quarto; num salto leve e silencioso, me pus de pé, me curvando pra pegar a toalha estendida no chão; apertei os olhos enquanto enxugava a mão, agitei em seguida a cabeça pra agitar meus olhos, apanhei a camisa jogada na cadeira, escondi na calça meu sexo roxo e obscuro, dei logo uns passos e abri uma das folhas me recuando atrás dela: era meu irmão mais velho que estava na porta; assim que ele entrou, ficamos de frente um para o outro, nossos olhos parados, era um espaço de terra seca que nos separava, tinha susto e espanto nesse pó, mas não era uma descoberta, nem sei o que era, e não nos dizíamos nada, até que ele estendeu os braços e fechou em silêncio as mãos fortes nos meus ombros e nós nos olhamos e num momento preciso nossas memórias nos assaltaram os olhos em atropelo, e eu vi de repente seus olhos se molharem, e foi então que ele me abraçou, e eu senti nos seus braços o peso dos braços encharcados da família inteira; voltamos a nos olhar e eu disse “não te esperava” foi o que eu disse confuso com o desajeito do que dizia e cheio de receio de me deixar escapar não importava com o que eu fosse lá dizer, mesmo assim eu repeti “não te esperava” foi isso o que eu disse mais uma vez e eu senti a força poderosa da família desabando sobre mim como um aguaceiro pesado enquanto ele dizia “nós te amamos muito, nós te amamos muito” e era tudo o que ele dizia enquanto me abraçava mais uma vez; ainda confuso, aturdido, mostrei-lhe a cadeira do canto, mas ele nem se mexeu e tirando o lenço do bolso ele disse “abotoe a camisa, André”.

publicado por escoladeescritores às 12:00

12
Out 16

 

Com o Outono, regressam as aulas, mas também as diversas actividades que lhe estão associadas, como é o caso do nosso blogue, que assim se prepara para, nos próximos tempos, acolher de novo textos de qualidade, produzidos no Agrupamento de Escolas de Vilela. Em breve daremos, pois, início a uma nova série temática. Boas leituras, nesta época de folhas caídas.

publicado por escoladeescritores às 12:02

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