O parágrafo de hoje foi redigido pela Catarina Meireles, do 10.º VA, que nos irá guiar pelos pensamentos das personagens do conto «Uma esplanada sobre o mar», de Vergílio Ferreira. Boa viagem.
O sol baixara um pouco e estendia agora uma estrada de lume pelas águas. Um barco à vela atravessou-a e um momento foi como se as chamas o envolvessem. O rapaz calou-se e a rapariga não sabia que perguntar. Ou tinha várias perguntas, mas não sabia qual estaria certa.
O rapaz olhava para ela e perdia a coragem. Era ela a razão de toda a sua hesitação. Nunca tinha reparado na rapariga como hoje. Parecia-lhe até que nunca a tinha visto em toda a sua curta e insignificante vida. Como era linda: a pele escura e bronzeada; os olhos fortes e verde-esmeralda que ao sol pareciam emitir luz; os cabelos delicados, louros e dourados; os lábios carnudos e vermelhos; o rosto bem desenhado pela magreza; o vestido branco. Toda ela inspirava paz e leveza. Na sua mente, porém, o mesmo não acontecia: estava preocupada com o que se seguiria. Estava nervosa e revoltada. Não sabia como se dirigir ao rapaz. Aquilo perturbava-a. A hesitação do rapaz perturbava-a. Olhava para ele e perdia por completo as palavras. Revoltava-se pela cobardia dele. Ela tinha o direito de saber. Era por isso que tinham combinado aquele encontro junto à praia. Desejava agora poder ler os seus pensamentos. Teimosa e decidida, tentou contornar aquela situação, distraindo-o. De repente surpreendê-lo-ia com a pergunta certa, à qual o rapaz não conseguiria fugir.
– Sempre fazes exame em Outubro? – disse ela por fim.