Continuamos com o diálogo entre as rivais no amor de Simão Botelho, agora entregue à pena da Linda Inês de Pinto e Melo, do 11.º VD, que o articulou da forma como a seguir se verá. Esperamos que os nossos leitores apreciem esta nova incursão no território do romance de Camilo Castelo Branco.
A voz de Mariana tremia, quando Teresa lhe perguntou quem era.
– Mariana, filha do mestre João da Cruz. O senhor corregedor foi bom para meu pai em tempos e o senhor Simão Botelho está hóspede lá em casa.
Os olhos de Teresa abriram-se de espanto.
– Simão? Foi ele que a mandou aqui?
– Sim, minha senhora. O Simão pediu…
– Como está ele? – interrompeu Teresa, ansiosa. – Simão sabe da minha situação? Meu pai quer-me casar com o meu primo Baltasar, mas eu recuso-me! – Mariana ouvia o discurso agitado de Teresa em silêncio e de olhos fitos no seu rosto, observando e admirando os seus traços e expressões. – Esta madrugada levar-me-ão para o Convento de Monchique, no Porto, o meu pai, Baltasar e as minhas primas. Diga-lhe isso, está bem?
– Minha senhora, o senhor Simão pediu-me para lhe trazer uma carta. – disse, e entregou a carta a Teresa.
Quando as suas frias mãos tocaram nas da fidalga, sentiu o macio da sua pele. A pele de Mariana era áspera, polida pelo trabalho de uma juventude. Simão Botelho, um homem de classe, nunca iria preferir as suas mãos trabalhadoras e humildes à delicadeza e suavidade de umas mãos nobres como as de Teresa.
Enquanto Mariana se perdia nos seus pensamentos e preocupações, Teresa lia a carta, com o semblante sério mas ao mesmo tempo afável.
– Menina Mariana, muito obrigada. Que Deus lhe seja bom, estou certa de que será. A menina já é dotada de tanta formusura, mas um sorriso fá-la-ia ainda mais bela. Porque está triste?
– Não tem que agradecer, minha senhora. – respondeu Mariana, ignorando a pergunta feita por Teresa. – Só cumpro ordens do senhor Simão. Eu vejo o que ele sente por si, ouço-o a chorar todas as noites. Não come, não dorme, só pensa em si. O amor faz isto a uma pessoa…
E Teresa afastou-se, limpando com a manga do casaco as lágrimas que lhe escorriam pelo rosto.
Saiu Teresa, e Joaquina entrou na grade.