Publicamos hoje o terceiro texto escrito por uma aluna de Literatura Portuguesa sobre a novela Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro, que se integra entre dois parágrafos (assinalados a negrito) da obra do autor renascentista. A contribuição de hoje é assinada pela Elisabete Silva, do 11.º C.
...onde só Deus me é boa testemunha de como as noutes dormia.
Foi ũa das passadas, leda, escura e tamalavez aceita, por onde me alevantei e segui pelos deleitosos vales. Não olhei nada, até que, a meu cabo, trémula e feroz, uma pobre raposa seguia. Mas tinha mais que temer, pois, atrás dela vinha, uma alcateia esfomeada. Mas que ventura! Desatei a correr. Ao apousentar meu pé no chão, a um rio não olhei nada. Fui cair nas águas do Rio Jordão. Sem ninguém para me socorrer, e como nem sabia nadar, deixei-me afogar. E foi aí que já não sentia mais nojos.
Era esta a parte em que devera fechar meus olhos. Mas não, não fechei. Não fechei porque neles se reflectiu uma sombra, um pálido rosto me olhou e encantou. Parecia ainda não ter saído da água, mas realmente saí. Tinha apenas os olhos com lágrimas, com um brilho cristalino, era um azul-turquesa lindo, não conhecia tal lugar de onde ele tenha vindo. Me moveo alteração. Reparei ainda na floresta e nos vales. Já não eram os mesmos. Eram ainda mais lindos que um lugar tranquilo. Tudo se tinha transformado.
O rapaz pegou-me na mão. Era alto e com fermosura, e , com aquele encanto, virou uma paixão sem cura. E eu que tantas vezes pensara que dos homens vinham os desgostos… Nele vi os melhores confortos! Pegou num barco talhado em ouro, desamarrou os meus sapatos e, com a sua voz de galante, chamou os patos. Vinham em grande número na minha direcção.
De mais não me recordo. Só da paisagem reflectida no meu abrir de olhos. Era um campo cheio de flores bem perto de minha casa. Não sei se foi sonho, não sei se foi nostalgia mas, de uma coisa tenho certeza, na palma das minhas mãos, um diamante azul-turquesa.
Assi passava eu o tempo, quand, ũa das passadas, pouco haveria, alevantando-me eu, vi a menhã como se erguia fermosa, estender-se graciosamente por entre os vales…