Iniciamos hoje uma série de entradas em que revisitaremos a poesia medieval através do trabalho de reescrita desenvolvido por alunas de Literatura Portuguesa. A partir do modelo das cantigas de amor (em que o trovador compunha o maior dos elogios à sua amada) ou das cantigas de escárnio e de maldizer (que serviam para satirizar ou criticar abertamente costumes ou pessoas da época), estas alunas escreveram os seus próprios textos, de carácter amoroso ou satírico, alguns mais próximos do modelo medieval, outros mais devedores da posterior tradição poética.
Para começar, publicamos uma célebre cantiga de amor da autoria de D. Dinis, constante no Cancioneiro da Vaticana com o número 119 e no Cancioneiro da Biblioteca Nacional com o número 481.
Que soidade de mha senhor ei,
quando me nembra d’ela qual a vi
e que me nembra que bem a oí
falar, e, por quant ben d’ela sei,
rogu’eu a Deus, que end’ á o poder,
que mha leixe, se lhi prouguer, ver
Cedo, ca, pero mi nunca fez ben,
se a non vir, non me posso guardar
d’enssandecer ou morrer con pesar,
e, por que ela tod’ end’ poder ten,
rogu’eu a Deus, que end’ á o poder,
que mha leixe, se lhi prouguer, ver
Cedo, ca tal fez Nostro Senhor:
de quantas outras [e]no mundo son
non lhi fez par, a la minha fé, non,
e, poi-la fez das melhores melhor,
rogu’eu a Deus, que end’ á o poder,
que mha leixe, se lhi prouguer, ver
Cedo, ca tal a quis[o] Deus fazer
que, se a non vir, non posso viver.