Este excerto pertence à obra O Vagabundo das Mãos de Oiro, de Romeu Correia.
Eu estou a ler este livro, e esta foi, até agora, a parte de que mais gostei, tendo decidido, por isso, divulgá‑la.
Na cena I desta obra, o diálogo é entre Zé Guia e Mestre Albino. O Mestre Albino era um bêbado, daí resultando que o Zé Guia tivesse querido fazer troça dele. É esse o momento que se segue:
ZÉ GUIA (pequeno vagabundo, grenhudo, tendo numa das mãos quatro fantoches pendentes de cordéis, grita para a plateia)
Mestre Albino! Mestre Albiiii…no! … (Pergunta ao público, acanhado) Vossas Senhorias deram fé de ele ter passado…? O Mestre Albino…? Não passou, pois não? (Ainda mais apoquentado) E o respeitável público á espera da comédia… Não há direito! Este homem vai acabar mal… (Íntimo) Hoje, foi outra de caixão à cova!...
(Senta-se num degrau da escada que desce para a plateia, compondo os cordéis dos bonecos.)
E é pena… Mestre Albino é o maior «bonecreiro» do mundo!... Um grande bêbado, mas tem umas mãos maravilhosas!...
(Baloiça os bonecos) Os fantoches das suas comédias imitam os gabirus da família… (Sorrindo) Verdade! (Indica um por um) A mulher dele… a filha… o marmanjo do padrasto… Aqui não se inventa nada! Pelo contrário: o meu patrão quando está grosso… até mistura tudo… Tão depressa faz uma paródia da galdéria da mulher… como dá para o fino, e goza o pessoal da banda do pai, que são uns pinocas de arrebentar a rir!...
Catarina Gomes [n.º 7 do 10.º C]